– Esperava-se um Presidente que, com sentido de Estado, trouxesse ao País ambição e capacidade de mobilização por causas, calhou-nos um que inexplicavelmente se apalhaça cada vez mais, confundindo a Nação com um puro palco do seu infantil e colossal narcisismo … Para não me citar quando, há 3 anos, em plena euforia nacional-marcelista, antecipei em entrevista ao SOL (23/11/2019) que Marcelo Rebelo de Sousa se arriscava a vir “a ser lembrado como o Américo Tomás, um presidente sem conteúdo” – e permita-se-me que lembre que já antes (em entrevista ao EXPRESSO a 05/04/1997) tinha identificado a famosa “gelatina política” marcelista – citarei um esplêndido, certeiro e corajoso texto de Miguel Monjardino no último EXPRESSO, quando escreve que Marcelo Rebelo de Sousa se tornou numa “ameaça à credibilidade da instituição Presidência da República e ao futuro de Portugal. (…) Os portugueses precisam que um Presidente da República corajoso, competente, e bem informado lhes sugira uma trajectória para atingir um conjunto de fins em que a maioria se reveja, isto é, uma estratégia”, e não – como diz Miguel Monjardino, de quem os entretenha ou menorize. A ler, absolutamente.
– Como se isto não bastasse, quando se esperava à frente do Parlamento alguém que o resgatasse da imensa e tantas vezes patética parasitagem politiqueira do “Chega” pela presidência anterior – para já não falar dos seus nefastos e perversos efeitos políticos -, sai-nos “na rifa” um político que ainda a vem, imprudentemente e sistematicamente, aprofundar…
– Por fim, esperava-se um Primeiro-Ministro que, finalmente senhor de uma sólida maioria absoluta – e agora sem a dupla desculpa dos compromissos “geringonciais” e da falta de dinheiro -, se dedicasse finalmente e com energia à concretização dos projectos de que o país tento precisa, e descobre-se um líder sem autoridade, sem equipa e sem visão, num atordoado desatino que lembra cada vez mais o segundo mandato de António Guterres…
– Em suma, depois da geringonça, parece que estamos agora entregues a uma caranguejola, que se desconjunta a cada solavanco!… Ou, como diria Agustina, que todos deviam ler um pouco mais: “Há em Portugal uma perfeita improvisação do destino. Todos se contradizem, mas ninguém entra em conflito. (..) As pessoas confraternizam com o irremediável, mais do que estão divididas nas ideias”. É isto, não é?