(Breve Nota)
. Ao ouvir a algazarra dos últimos dias, provocada ao que parece por uma frase do líder do PSD no último fim-de-semana, parece que ninguém é capaz de distinguir entre, por um lado, o que é a “teoria” do género, uma teoria filosófico-sociológica séria, interessante e naturalmente discutível. E, por outro lado, a “ideologia” de género, que é uma amálgama de tópicos de cariz fanático, que se apresenta dogmaticamente recusando o debate e pretendendo impor-se universalmente, como se de um conjunto de verdades indiscutíveis se tratasse quando, na verdade, tudo a aproxima mais de uma nova religião, do criacionismo, por exemplo – mas também se podia aproximar do lyssenkismo soviético -, na sua recusa dos mais elementares dados da ciência, integrando-se assim no que tem alastrado como uma nova peste pelo mundo ocidental, sob o nome de “wokismo”.
. Mas se tudo começou na recusa da biologia, a coisa já chegou mesmo – depois de se procurar estropiar a literatura, a filosofia, a história, etc. – à rejeição da física e da matemática! … Não admira por isso que a algazarra em curso – enquadrada pelo tríptico ignorância/boçalidade/alacridade que cada vez mais intensamente caracteriza o nosso espaço público político-mediático – ocorra entre populistas de direita e populistas de esquerda, siamescamente irmanados em impedir qualquer sereno debate sobre a matéria, como efectivamente se impõe fazer – nomeadamente depois dos grotescos, e a muitos títulos sinistros, últimos mandatos no ministério da Educação.