Do WOKISMO AO TRUMPISMO – 1

                                                        1- FACTOS

. À medida que o tsunami trumpista avança, numa vaga devastadora que parece não conhecer limites, há um ponto que se impõe reconhecer: é que sem o “trunfo” do combate ao wokismo, o regresso de Donald Trump não teria muito provavelmente acontecido.

. Os dados são categóricos: é que, apesar de Donald Trump ter conseguido transformar uma vitória pouco mais que tangencial (a diferença com Kamala Harris foi de apenas 1.5%) num triunfo esmagador, e de ter consolidado esta imagem com a ajuda, por um lado, de um bem preparado discurso e comportamento imperiais e, por outro lado, com a cumplicidade de uns media atordoados com o inesperado resultado e, ainda, com o mutismo dos democratas, completamente bloqueados com o regresso de Donald Trump, o facto é que a sua vitória eleitoral, lida em votos, esteve longe da imagem que dela se projectou e, entretanto, se tem vindo constantemente a reforçar.

. E se foram evidentemente vários os factores que contribuíram para essa vitória, há um que foi decisivo, que foi o trunfo que os democratas e a generalidade da esquerda lhe ofereceram “de bandeja” nos últimos anos, e que Kamala Harris, numa campanha desnorteada e sem ideias, não só protagonizou, como reforçou. Esse factor foi o wokismo, assumido pela candidata democrata à presidência dos EUA, e pelo seu candidato a vice-Presidente, Tim Walz. Este, como governador do Minnesota, tinha mesmo feito aprovar uma controversa directiva que obrigava – em nome de uma alegada “equidade pedagógica” de inspiração wokista – os professores de todas as escolas a inculcar a ideologia de género aos alunos, pondo os seus lugares em perigo se não o fizessem. Tim Walz assumiu o wokismo de uma forma explícita e sistemática (leia-se a sua “Executive Order”, de 23.03.2023 ),  dando particular  acolhimento às reivindicações transgénero

. E foram muitos os dados a apontar no mesmo sentido, desde a publicidade anti-woke que dizia “Kamala Harris is for they/them, President Trump is for you”, uma publicidade de 30 segundos que foi difundida mais de 30 mil vezes nos estados americanos eleitoralmente mais decisivos, e que as sondagens indicam ter tido um impacto de 2,7 pontos a favor de Trump (cf. “How Trump won and how Harris lost”, New York Times, 07.11.2024), até ao facto de, entre 7 e 20 de Outubro de 2024, 41% da publicidade propagandística da campanha de Donald Trump ( no valor de 91 milhões de dólares) ter sido dirigida ao wokismo da candidata democrata, em particular sobre a temática transgénero, muito mais do que sobre a economia ou a imigração (cf. PBS NEWS, 02.11.2024). Mais do que uma aposta populista, como tantas vezes se diz, foi – utilizando uma designação sugerida pelo filósofo indiano Mukul Kesavan – de uma aposta maioritarista que se tratou, foi ela que abriu caminho à chamada “revolução do senso comum”, reivindicada por Donald Trump. Tudo trunfos decorrentes do deslumbramento minoritarista da esquerda americana e do seu demissionismo político e ideológico, bem escalpelizado logo em 2016, a seguir à primeira vitória de Trump, por Mark Lilla, num artigo publicado no New York Times em meados de Dezembro desse ano, desenvolvido no ano seguinte num pequeno mas notável livro, infelizmente ignorado por aqueles a quem se dirigia.

. Apesar destes dados, e da evidência para que eles apontam sobre a decisiva importância estratégica e táctica que o combate ao wokismo teve na vitória de Donald Trump, continua a ignorar-se ou a desprezar-se o facto, tendo a “conversa” no espaço público continuado a ser dominada pela convergência do conformismo acéfalo da generalidade dos media com a cegueira sistémica de alguma – infelizmente muita!…- esquerda. Ambos reféns das narratretas que eles próprios criaram e alimentaram durante meses, talvez anos, e com que anestesiaram e intoxicaram as sociedades e os indivíduos, impedindo o debate dos problemas reais do nosso tempo e do nosso mundo. O fenómeno é sem dúvida, global, em Portugal ele é – como geralmente acontece com quase tudo – simplesmente mimético … e pior.

(Continua – este é o primeiro de 3 textos sobre o tema do título)

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