O COLAPSO EUROPEU

. A IMPOTÊNCIA

Reuniões atrás de reuniões, relatórios atrás de relatórios, muitas fotografias e todos sempre a sorrir – eis ao que, na verdade, se reduz hoje a Europa, três anos depois da invasão da Ucrânia pela Rússia, três anos em que a União Europeia não foi capaz de elaborar qualquer estratégia político-diplomática para pôr fim ao conflito então desencadeado, numa exibição de impotência que só não viu quem não quis abrir os olhos.

. O ERRO FATAL

Um erro gigantesco e fatal foi cometido por Ursula von der Leyen, mas sufragado pela generalidade dos políticos, dos partidos políticos e dos media ocidentais. Esse erro consistiu na confusão, na identificação politicamente grotesca, de duas coisas bem distintas: a inequívoca obrigação de apoiar um país criminosamente invadido, com a falsa afirmação que se tratava de uma democracia exemplar, em cujo destino se “jogava” o destino da democracia europeia. Isto quando, na realidade, a Ucrânia revelava, como diversos instituições idóneas então afirmavam sem nuances, características políticas que claramente o aproximavam de um regime autoritário, ou mesmo tendencialmente ditatorial. Se esta distinção tivesse sido feita, uma verdadeira estratégia podia ter sido traçada, e a situação podia ser hoje bem diferente.

. UMA ESPIRAL RETÓRICO-BELICISTA

E agora, quando, depois das iniciativas de Donald Trump, ela se vê humilhantemente excluída das negociações em curso entre a Ucrânia e a Rússia, a Europa lança-se numa espiral belicista puramente retórica (mais reuniões, mais relatórios, mais fotografias e mais sorrisos…), para a qual não tem quaisquer meios – nem financeiros, nem militares, nem políticos. Acena com milhões de euros que não tem – o serviço da dívida da própria U.E. já vai em 30 mil milhões de euros por ano -, invoca exércitos que não existem de todo no mundo europeu, assume-se como um Estado-nação ou uma federação de Estados – condições sine qua non para uma efectiva, e legítima, existência de Forças Armadas – , quando, na verdade, não é num uma coisa nem outra.

. SEM VISÃO…

Tudo isto configura um colossal embuste, ainda por cima quando se aponta para eventuais resultados lá para o ano de 2030 – mas alguém sabe onde estará Donald Trump nessa altura (na Casa Branca já não será…), alguém na União Europeia pensa, prospectivamente, como estará o mundo, os EUA, a China ou a Rússia, como o actual ritmo alucinante dos acontecimentos mundiais aconselharia a fazer?

… QUE EUROPA-POTÊNCIA?

E, no entanto, muito da situação que vivemos hoje era bem previsível. A propósito, leia-se um extracto do que, logo em 2022, poucos meses depois da invasão da Ucrânia pela Rússia, escrevi: “ Por outro lado – e este outro ponto é central para que uma Europa-potência veja alguma vez a luz do dia -, é evidente que está a ser muito difícil para os dirigentes políticos europeus assumirem (e explicarem aos seus povos, claro!) que o “chapéu de chuva” americano, que durante décadas garantiu a segurança da Europa, tem os dias contados, está em vias de se fechar, dado que as prioridades que os Estados-Unidos têm vindo a definir desde a Presidência de Barak Obama são outras e bem diferentes. Apesar da Ucrânia, que não haja equívocos nem ilusões sobre isso.

. Ora, como foi a existência desse “chapéu de chuva” que permitiu à Europa não só sentir-se segura face à ameaça comunista e ao ambiente da Guerra Fria, como – aspecto não menos importante, bem pelo contrário – foi ela que permitiu à Europa canalizar meios financeiros astronómicos para a construção dos seus robustos Estados providência, sem quase gastar um cêntimo com a sua segurança e defesa, compreende-se a dificuldade europeia com a situação presente e com as perspectivas que, neste domínio, se lhe impõem.

. A ALTERNATIVA

Mas as coisas são o que são. Os dirigentes europeus sabem bem que, por mais difícil que ela seja,  a alternativa que se coloca aos responsáveis europeus não podia hoje ser mais cristalina: ou assumem a responsabilidade da sua segurança e defesa definindo ao mesmo tempo de uma vez por todas as suas fronteiras, acompanhando essa opção com o abandono da regra da unanimidade; ou o seu destino está escrito – será o de um definhamento progressivo num mundo em que a Europa contará cada vez menos em todos os domínios decisivos, dando assim razão à intuição de Milan Kundera quando definiu o europeu, não pelo futuro que ambiciona, mas pelo passado que viveu – como “aquele que tem a nostalgia da Europa”. (in A Democracia no seu Momento Apocalíptico, Grácio Editor, 2022, remeto os eventuais interessados para as pp. 19 a 33 deste livro, que bem podiam ser escritas hoje)

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *