UMA BRANCA DE NEVE WOKISTA
Aí está uma nova Branca de Neve nas salas de cinema, a exibir em todo o seu esplendor manipulatório e censório os efeitos do wokismo – mais um caso, entre milhares de tantos casos análogos, todos bem documentados por inúmeros estudos -, que levou à perseguição e ao cancelamento de universitários, de cineastas, de escritores, de actores e de actrizes, de artistas plásticos, de personalidades políticas, de festivais, de peças de teatro e de óperas, numa infindável lista que passa por Agatha Christie, J.K. Rowlings, Roal Dahl, Enid Blyton, Mark Twain, Salmon Rushdie, Patricia Highsmith, Alfred Hitchcock, Victor Flemming, Richard Dawkins, Mozart, Verdi, Sófocles etc., etc. Um último e lamentável caso acaba de acontecer com a decisão da prestigiada editora francesa Presses Universitaires de France de, no seguimento de pressões nesse sentido feitas publicamente por um evangelista woke – curiosamente, de um professor no Collège de France -, cancelar a publicação da obra que ela mesmo tinha encomendado a Pierre Vermeren, intitulada Face à l’obscurantisme woke.
A COSMÉTICA WOKE
Agora temos uma Branca de Neve que, pretendendo “renovar” a versão original da Walt Disney, de 1937, a estropia completamente em obediência aos dogmas do wokismo e da nova “santíssima trindade” – diversidade, equidade, inclusão – que ele procurou impor por todo o lado, distorcendo sempre o sentido de cada um destes conceitos, moldados sem escrúpulos pela suas baias ideológicas. Nesta versão, a Branca de Neve – ou, como escreveu o New York Post, a “Snow Woke” – é branca porque nasceu durante um nevão, os 7 anões começaram por ser de diversas etnias antes de, perante diversos tipos de protestos, acabarem por ser digitalmente produzidos, o Príncipe Encantado evidentemente que desapareceu, substituído por um plebeu que chefia um grupo de rebeldes que ajudam a derrotar a Rainha Má, há mesmo um motim popular para acabar com ela, etc., etc. – enfim, uma catástrofe, como bem observou Eurico de Barros, há dias, no Observador.
JUST IN TIME…
. Esta estreia vem mesmo a tempo de lembrar aos que persistem em ignorar, ou ocultar, o papel determinante que o wokismo e a panóplia dos seus dogmas teve na vitória de Donald Trump, papel que diversos estudos dos resultados da eleição de 4 de Novembro de 2024 tornaram, entretanto, incontroverso, mostrando que sem o trunfo wokista que os democratas ofereceram a Donald Trump, ele certamente não teria ganho as eleições presidenciais americanas. Os responsáveis agora queixam-se, mas é tarde – e o pior está ainda, penso, para vir… Mas continuam quase todos em negação, numa lamentável mas cada vez mais frequente combinação de estupidez sistémica com irresponsabilidade política, o que infelizmente não surpreende porque o wokismo recorreu sempre ao estratagema, básico mas eficaz, que consiste em negar a sua existência e em atribuir a sua “invenção” aos seus adversários, procurando assim imunizar-se contra todo o debate e contra toda a crítica.
O DILEMA DEMOCRATA
. A contribuição wokista para a vitória republicana deixou os democratas americanos, e muita esquerda ocidental, perante uma enorme dificuldade, na verdade face a um verdadeiro dilema: ou reconhecem o facto, e o erro da opção que tanto marcou as suas políticas na última década, na linha das lúcidas e corajosas análises que, por exemplo, têm feito o filósofo Mark Lilla ou o politólogo Yascha Mounk, passando depois para um trabalho de elaboração de propostas verdadeiramente políticas, de ordem económica e social, educacional e cultural, tendo em conta o novíssimo contexto geopolítico em que vivemos e as suas eventuais consequências. Ou continuam em estado de negação – arrastando, como diria Pessoa, um “cadáver adiado que procria” -, a rejeitar as suas responsabilidades no triunfo de Donald Trump. Manobra que agora até pode parecer facilitada pelos desmandos de toda a ordem do trumpismo, continuando sem apresentar ideias ou propostas que os cidadãos vejam como efectivas alternativas à actual situação – ponto este que, na peculiar situação que estamos a viver Portugal, devia fazer pensar…
SINAIS…
. É ainda muito cedo para se perceber qual virá a ser a opção dos democratas americanos. Mas vão aparecendo alguns sinais de que se pretende sacudir o pesadelo woke, acompanhando assim o sentimento popular, tal como – com evidente calculismo – já o têm já feito múltiplas empresas americanas, nomeadamente as tecnológicas, que têm vindo a deixaram cair toda a ideologia woke. É o caso de Gavin Newsom, governador da Califórnia e um dos mais previsíveis candidatos democratas para em 2028 enfrentar os republicanos, muito provavelmente J.D.Vence, que já descolou de um modo explícito da “agenda woke”, lançando mesmo um podcast para o qual tem convidado personalidades bem distantes do tradicional “núcleo duro” democrata. Ou de John Fetterman, um prestigiado senador democrata da Pensilvânia, que repete alto e bem som que “não sou woke”. Ou ainda de Pette Buttigieg, o candidato que Barak Obama gostaria de ver a disputar a Casa Branca em 2028, que já apagou dos seus perfis públicos todos os elementos que o pudessem associar ao folclore woke. Mas para já, são apenas sinais…
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